Escolas do 2º e 3º Ciclo do Ensino Básico

Artigo/reportagem

Palavras-chave: mobilidade sustentável | ordenamento do território | poluição atmosférica

Convento de Mafra
Colégio Miramar (MAFRA)

Preservação do Palácio Nacional de Mafra

Vamos deixar o monumento ‘respirar’...».

O Presidente da Câmara Municipal,

José Maria Ministro dos Santos

 

Construído a mando de Dom João V, os trabalhos deste multifacetado monumento iniciaram-se em 17 de novembro de 1717 e terminaram em 1744, tendo sido inaugurado pelo papa Bento XIV. Duzentos metros de fachada demonstram a imponência do real edifício centrado por uma basílica com catorze estátuas de mármore, da responsabilidade de mestres italianos, ladeada pelo Palácio, com dois torreões e seiscentas e sessenta e seis divisões, bem como pelo Mosteiro/ Convento, entretanto desativado.

O Real Edifício de Mafra constitui uma referência do pensamento arquitetónico e natural da civilização ocidental, quer enquanto unidade - congregando um palácio, basílica, convento, hospital monástico, jardim e tapada - quer devido aos seus elementos de elevada qualidade cultural, designadamente, órgãos, carrilhões, biblioteca e estatuária.

O desenvolvimento sustentável das vias de circulação das/para/nas cidades assume um destaque cada vez mais relevante na vida das cidades, encarando-se estas artérias, quer como motores de desenvolvimento económico, quer como geradores de distúrbios ambientais. Impõe-se, pois, a necessidade de articulação com as políticas e instrumentos de gestão territorial para se alavancar, não só o desenvolvimento dos espaços urbanos, em termos económicos, de valorização equilibrada do território, não olvidando a defesa do meio ambiente, do património cultural e natural e bem-estar social.

Imbuídos desta consciência, os alunos participantes no projeto "Jovens Reporteres para o Ambiente", bem como os que frequentam a Academia Escola Azul – Fernando Louro Alves (espaço no qual se desenvolvem projetos de cariz ambiental, os quais visam fomentar nos jovens atitudes de preservação do ambiente através da aplicação de boas práticas ambientais) e a Academia de Comunicação Social – Nuno Markl do Colégio Miramar propuseram-se investigar e refletir sobre as razões inerentes às alterações urbanísticas que, à data, decorrem junto ao Monumento do Convento/ Palácio Nacional de Mafra, zona esta que permitia, até à data, o estacionamento de cerca de quatro centenas de automóveis.

Inicialmente, na ótica dos alunos responsáveis pela resposta à iniciativa "

Jovens Repórteres para o Ambiente", as razões subjacentes a tais alterações prendiam-se, quer com fatores relacionados com aspetos de ordenamento do território, quer com problemas ambientais causados pela poluição do ar, originada pelo tráfego automóvel.

Estas hipóteses, numa primeira instância, fundamentaram-se apenas, quer nos seus conhecimentos basilares sobre a questão, quer no conhecimento empírico e senso comum. Assim, e com o intuito de conferir um maior grau de assertividade e cientificidade às suas suposições, estabelecendo uma relação mais estreita entre os aspetos teóricos e os práticos, solicitaram à Câmara Municipal de Mafra a oportunidade de investigar,

in loco, as principais causas, avaliar as consequências da poluição do ar e, por conseguinte, enumerar algumas medidas promotoras de atitudes pró-ambientais.

Deste modo, e após concedida a autorização, os alunos encetaram, no dia 29 de fevereiro de 2012, uma primeira visita guiada pelo Sr. Engenheiro Osvaldo Rebola ao centro histórico de Mafra, zona frontal do Monumento do Convento / Palácio Nacional de Mafra, tendo recolhido informação no terreno.

Em função do observado, os alunos procederam ao tratamento de toda a informação recolhida. Posteriormente, deslocaram-se no dia 02 de maio de 2012 à Câmara Municipal de Mafra, onde efetuaram uma segunda entrevista, desta feita ao Sr. Engenheiro António Silva Fernandes, Chefe de Divisão de Edifícios e Administração Direta, solicitando esclarecimento sobre as questões e dúvidas levantadas, quer inicialmente, quer durante a visita ao local.

Visita às obras da frente do Palácio Nacional da Vila de Mafra

No dia 29 de fevereiro de 2012, fomos recebidos na zona frontal do Palácio pelo Sr. Engenheiro Osvaldo Rebola, responsável, no local, pelas obras decorrentes junto ao Monumento do Convento/ Palácio Nacional de Mafra.

Após ter-nos informado sobre as regras de segurança a cumprir durante o percurso da visita, conduziu-nos ao longo da zona frontal do Palácio de Mafra explicando que "As obras visam a requalificação e remodelação de toda a zona do centro da vila, incidindo em três zonas distintas:

Terreiro D. João V (largo fronteiro ao Palácio, até à frente construída da vila); Largo das Bicas ou das Tílias (zona a norte do Palácio, junto ao Jardim do Cerco); e Jardim da Alameda (largo a sul do Palácio, junto à Escola Prática de Infantaria)."

Acrescentou ainda que as razões das alterações em curso se prendiam, sobretudo, com a restituição da dignidade do Convento e valorização de toda a sua envolvente. Especificou que "Através da redefinição dos arruamentos, fomentar-se-á a circulação pedonal, em detrimento da circulação automóvel, bem como se proporcionará um espaço de lazer, fruição e repouso num dos principais pontos turísticos da vila, devolvendo-se, assim, o ónus do espaço público ao peão, secundarizando a importância atribuída ao automóvel."

Solicitada explicação mais detalhada sobre a verdadeira dimensão atribuída à palavra dignidade, o entrevistado esclareceu que a proposta de ampliar esta área em frente do Palácio, baseara-se no respeito pelos seus antecedentes históricos, apoiados na conceção de "terreiro", entendida como um amplo espaço desafogado, um pouco à semelhança do que é comum observar no traçado dos grandes palácios Barrocos.

Tornou-se, pois imperativo remover todo o maciço automóvel que ali se encontrava estacionado, diariamente, o qual se tornava um agente poluente visual e perturbador do ambiente, pelo ruído e pela emissão de gases poluidores da atmosfera, provocando desconforto, mal-estar à saúde pública, para além de contribuírem para a degradação do Convento de Mafra.

Imagens:Obras a decorrer na zona frontal do Palácio.

Posteriormente, fomos informados que a primeira etapa das alterações urbanísticas fora concluída no ano transato, aquando dos trabalhos da zona norte do Palácio, junto ao Jardim do Cerco, sendo que verificámos que se mantém as intervenções na zona frontal.

Os trabalhos relativos às infraestruturas do local, designadamente, passagem de cabelagens, abastecimento de águas e drenagem de águas pluviais, já se encontravam concluídos, por conseguinte, presenciámos as obras relativas à fase de pavimentação da zona frontal do Palácio. Estas mantiveram a ideia original do monarca D. João V, ou seja, uma grande praça com a típica calçada portuguesa, resplandecendo um pavimento de tonalidade clara e escura, em cubos de granito, posicionados em direções radiais, partindo de um ponto central. Procurou-se criar uma espécie de extensões dos raios do "sol", presentes na entrada da Basílica.

É de referir que, aquando da nossa visita, efetuada no dia 29 de fevereiro, pudemos constatar a presença de líquenes no Convento, principalmente nas zonas viradas a norte (ver imagem). Os líquenes, que constituem uma associação entre algas e fungos, são bioindicadores (indicadores biológicos) que podem fornecer importantes pistas sobre a saúde do ambiente, estabelecendo-se apenas onde o ar é limpo.

Em função desta premissa, sabe-se que o seu desaparecimento constitui indicador de stresse ambiental, ocasionado pela presença de alguns poluentes. Apesar de terem sido removidos do Convento de Mafra, há cerca de quinze anos, aquando da limpeza exterior, concluímos que a sua presença é um bom indicador.

Inquirido sobre as datas limite previstas para a conclusão da obra, bem como se a população de Mafra está informada sobre as causas desta remodelação, o Sr. Engenheiro Osvaldo referiu que, "Tratando-se de uma área intervencionada bastante ampla - 26 000 metros, ou seja, 13 hectares e meio, tal esteve inerente a um faseamento de 420 dias, com início em dezembro último, o seu término previsto para janeiro de 2013. Perante a envergadura da obra, a população de Mafra tem sido informada, quer através das Assembleias Municipais, quer por meio dos Folhetos Municipais da Câmara Municipal de Mafra."

Visita à Câmara Municipal de Mafra

No dia 02 de maio de 2012 fomos recebidos na Câmara Municipal de Mafra pela Sr.ª D.a Maria do Céu Arsénio, Técnica do Serviço Administrativo de Gestão e Apoio Direto, e pelo Chefe de Divisão de Edifícios e Administração Direta, Sr. Engenheiro António Silva Fernandes, que nos esclareceu sobre as motivações conducentes à realização das obras em execução na área frontal ao Convento de Mafra, bem como estas se relacionam com as questões ambientais.

Alunos da Equipa Jovens Repórteres para o Ambiente: Ana Namen; Cláudia Tomás; Afonso Gaspar e Fabien Cerqueira (da esquerda para a direita) na entrada do edifício da Câmara Municipal de Mafra.

Conduzidos a uma Sala de Reuniões, demos início à entrevista, tendo por base de orientação um guião, elaborado, quer a partir da primeira visita realizada, quer a partir da investigação por nós concretizada no âmbito do presente trabalho.

De seguida, transcreve-se o trabalho realizado:

- Quais são as principais razões para a realização das obras em execução na área frontal ao Convento de Mafra?

Eng.º António Silva Fernandes: As obras na área frontal ao Convento de Mafra devem-se a razões fundamentais, ligadas à componente ambiental e não ambiental. No que concerne a esta última, pretende-se requalificar, remodelar, dignificar e valorizar o espaço envolvente ao Palácio, nomeadamente, através da reordenação da circulação automóvel, junto ao monumento. Assim, onde até então passavam quatro faixas de

J.R.A. – Na sua opinião, que mudanças deveriam ocorrer no nosso quotidiano de modo, quer a mitigar as causas, quer a evitar de forma mais determinada os efeitos e consequências da poluição atmosférica?

Eng.º António Silva Fernandes: Utilização de transportes públicos, em vez do automóvel individual; Redução na produção de Resíduos Sólidos Urbanos - RSU (o denominado lixo comum), uma vez que se verifica um excesso de consumo de sacos de plástico que é um material não biodegradável e que demora mais de 100 a degradar-se. No fundo, refiro-me à aplicação correta da política dos 3R´s, pois não basta dizê-la porque fica bem, o que realmente importa é a atitude de aplicá-la. Deste modo estaremos a preservar e melhorar a qualidade ambiental.

Por outro lado, ainda que pareça distante a relação, ao deitarmos fora comida doméstica implica produzirmos mais; ao produzirmos mais, obrigamo-nos ao consumo desnecessário; por outro lado, leva à produção de mais resíduos e consequente recolha. Esta é realizada através de veículos que utilizam como combustível um subproduto derivado dos combustíveis fósseis, responsáveis, como já referi, pela emissão para atmosfera de gases poluentes, prejudiciais para o ambiente.

J.R.A. – Considera que estas alterações da zona frontal do Convento de Mafra trarão mais-valias para os cidadãos do município e para o edifício do Palácio? Quais?

Eng.º António Silva Fernandes: Sim, claro. Ao nível urbanístico as mais-valias prendem-se, como disse anteriormente, com a organização daquele espaço em termos de circulação automóvel, tornando-o ordenado e convidativo. Por outro lado, a transformação daquela área em zona pedonal vai possibilitar uma ligação contínua entre a vila e o Palácio Nacional de Mafra, valorizando o património e potenciando as atividades económicas e turísticas existentes.

 

Agradecimentos: Este trabalho não teria sido possível sem o contributo de:

– Os alunos da Academia de Comunicação Social – Nuno Markl do Colégio Miramar e sua Coordenadora, Professora Anabela Lopes;

– O Departamento de Obras e Urbanismo - Divisão de Edifícios e Administração Direta da Câmara Municipal de Mafra, especificamente: Sr.ª D.a Maria do Céu Arsénio, do Sr. Eng.º António Silva Fernandes e do Sr. Eng.º Osvaldo Rebola, por toda a disponibilidade e informações dispensadas.

 

4 NOTA J.R.A.:

De acordo com dados de 2002, o Concelho de Mafra apresenta uma estrutura empresarial com forte peso do sector terciário (68,0%), relativamente ao primário (3,6%) e ao secundário (28,3%). Do total de 2.194 empresas existentes, 180 encontravam-se afetas às atividades de agricultura, produção animal, silvicultura e pescas. Já 621 desenvolviam a sua atividade nas áreas das indústrias extrativa e transformadora, enquanto 1.493 se dedicavam ao comércio e serviços. Os dados apresentados permitem concluir que o Concelho de Mafra segue de perto a tendência geral para a terciarização da economia, tendência esta que se tem vindo a constatar desde 2000, ano em que se registaram valores muito aproximados de 2002.


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